quarta-feira, 23 de junho de 2021


 

Parmênides, hoje eu me sentei com todos os meus medos num jantar tenro e farto de expectativas gourmetizadas e dialoguei
comigo mesma, sei o quanto cri
que batendo os pés e as mãos em meio ao oceano toda a agitação 
transformaria a água em terra firme

Entretanto, só encontrei a firmeza que buscava ao afundar
 alcançando a terra no inconcebível fundo do oceano
na profundidade mais escura de mim mesma

 Parmênides, se eu sou o riacho e a água seca ou transborda
é tudo somente porque também sou as margens
mas não havia ainda me percebido
perpetuando os esquemas, toda essa engenhosidade pontualmente perpetuada por mim

Engasgamento, quando Ouroboros saciou-se de si
porque eu sou a água e as margens floridas
e enquanto Rá me toca, transcendo com sua máxima do Templo em Delphos
assim, sou eu mesma também, a precipitação
eu sou o rio, as margens e a chuva 
e o outro: o outro começa somente no momento em que eu termino


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

 


Deixe que as coisas aconteçam da forma como tem de acontecer, Arminka 

Libertar ainda é uma maneira de permanecermos em nós mesmos, 

não somos o centro de tudo 

Mesmo quando fomos firmes contra a maré estávamos cercados pelas encostas dos nossos sonhos. 

Arminka, por que insistimos em procurar por aquilo que sabemos que irá machucar nossos olhos ardendo nossa alma?

 Você sabe quem tem nos rondado? 

Sim, sabemos já 

não é senão a raiz oculta cujos olhos espreitam sob a escuridão das nossas próprias sombras 

sobe rastejando em forma espiral contornando-nos dos pés à cabeça, cercando nossos pensamentos 

Quem melhor conheceria os limites da nossa própria consciência acerca de nós mesmos? 

Incessantes vozes falantes geradas pelos rastros enfurecidamente dopaminérgicos deixados no sistema límbico em nós



segunda-feira, 3 de agosto de 2020






Aos poucos, Arminka, aos poucos

Numa primeira vez, eu me impeço
guardo para mim, apesar do profundo amargor que causa
a ponto de não conseguir deixar de transparecer o desgosto
no peso da seriedade que me abate

É a partir disso que pondero um valor entre mim e a situação 
A gênese do fundamento que me guiará numa próxima vez, 
que está por vir, Arminka, está por vir

Numa segunda vez, eu me expresso
as palavras extraídas do fundamento transcrito numa bandeira que junto de uma estaca
finquei em meu peito
Não, Arminka, eu não estaria derrubando algo
Como perder o que já está perdido?

Se uma situação vem a partir de uma escolha alheia, já não depende mais de mim
definitivamente já é o que queria ser, o que penso não impedirá que continue sendo
E se isso se choca com o que há dentro de mim é para que eu perceba claramente
que as coisas não são bem como eu pensava que fossem

E não posso ficar nas mãos de uma vontade que não me pertence
por isso, numa terceira vez, eu me despeço












quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

...


Cat Rangel: The Empress


Phorbs, Caeiro disse: " pensar é estar doente dos olhos ",
Mas ver é estar mais ainda, mostrar, então, é o ápice patológico
Se o que ilumina o olhar é a direção da vontade, o que os lobos querem ver,
derrama amígdala a paranoia que escorre pelo occiptal e temporal fazendo de conta que alcança e se choca com a fóvea

Ah... todas as poeiras que refletem o que achamos que vemos ou que queremos ver

Você acredita em destino, Phorbs?
Eu acredito que a vida saiba mais sobre a vida do que nós, pois o limite da nossa compreensão é a dicotomia para o entendimento e escolha sobre tudo.  E se tivermos que decidir, melhor que escolhamos o silêncio para que façamos a escolha de escolher ouvir o som da grama crescendo, os pelos da ovelha subindo, o som de um tenro galho encompridando, nada mais além de deitados aos pés do deus Heimdallr.

Passemos então contemplando o que se pode contemplar em silêncio, Phorbs. Porque o barulho do mundo não acrescenta mais do que repulsas e vontades, oferecendo banquetes de comidas que ao contrário de nutrir e saciar, deixa-nos insaciavelmente famintos.
Distraídos, não cuidamos do que é nosso.
E nossa é a escolha dos pensamentos

domingo, 18 de agosto de 2019



Venus veiling Pandora by stephen katsavo

Quando falo hoje Emiliano, falo pisando em degraus feitos de nuvens que são feitas de sonhos pela insegurança (esta, que é o sinal mais concreto de que estamos caminhando na trilha do destino).
Corações alados.


No âmbito da educação você toca mais almas do que pode perceber, por isso é preciso ser muito claro e objetivo, todavia com profundidade nos olhos para que a compreensão se dê essencialmente pelo olhar.

Será que o Sol assiste a todos que seus raios tocam? Será que as nuvens assistem a todos que suas gotas tocam, Emiliano?

No campo da educação, diariamente, plantamos respostas para colhermos questões, nutrindo-o estoicamente para um propósito no agora e não num vir a ser. O agora feito pelo agora, como as mandalas de areia feitas pelos monges tibetanos.

Quem professa, professus, questiona, acima de tudo, a si mesmo, caso contrário lança tentáculos.

A educação vem fortemente revestida em uma justificativa do depois, mas o depois é desconhecido por nós e inevitável, está nas mãos das Nornas, a vida sabe mais sobre a vida do que nós. Somente o agora pode ser vivido para o reconhecimento de cada um (em seu tempo) acerca da profundidade do seu eu.

E não é a potencialidade da compreensão das próprias capacidades e limites a lamparina (que sustenta a chama por meio do inflamável da vontade e fogo do conhecimento) que ilumina quaisquer caminhos que surjam? 

Para mostrar um caminho é preciso mais do que já ter passado por ele, é preciso guiar passando por ele, sabendo que nada permanece como foi e nem será como projetamos ser.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Arcano Menor: Rainha de Espadas





Camillo, estou ciente de que nesse mesmo instante estão ocorrendo tantas coisas, mas apesar de reconhecer isso, meus sentidos não são suficientes para captar em completude a vastidão da singularidade <em visão micro e macro> do que tem ocorrido para além da minha cabeça

Só que eu percebi, Camillo, eu percebi...
agora esse é um ponto muito claro dentro do conjunto de pensamentos que me sacode os nervos do despertar ao adormecer, sim está nítido
eu percebi que o que mais nos atormenta é a possibilidade de estar perdendo possibilidades
associada à vaga e iludida impressão de que temos domínio quanto a isso

Entendo, Camillo, e até concordo em partes, mas não, nem em relação aos nossos pensamentos poderemos utilizar a acepção desta palavra, pois não dominamos
Não temos o controle sobre todas as variáveis, nem mesmo conhecemos todas as variáveis
Estamos, em verdade, dançando com cada um desses pensamentos, eles nos oferecem a mão e nós permitimos a dança, rodamos, rodamos e rodamos nesse salão que é nossa mente
E nesse momento estabeleceremos sinapses, as quais serão chamadas de "passado" pela intensidade com que ocorrem e permanecem,
enquanto nós continuarmos aceitando seus convites para mais uma dança,
pois quando não mais, elas esvanecem feito como quando sopramos sementes de dente-de-leão.
Por vezes, abandonando para sempre o salão.

Então, posso recusar estoicamente a mão estendida desse pensamento que me faz pensar, de acordo com a medida dele, que não estou vivendo de maneira suficiente
que eu deixei passar, que eu estou deixando passar e que eu não passarei
Dançar com esse pensamento só me faz girar em torno de mim mesma, 
e por quanto tempo poderei suportar esse giro sem sentir meu estômago enjoar? 
por quanto tempo poderei suportar esse giro sem perder o equilíbrio no salão?
E a consequência dessa vertigem me induz a ver e a pensar que as coisas a minha volta estão fora do lugar, mas elas não estão senão em mim, tonta de tanto girar com ele

Se o passado é uma rede de sinapses que eu sustento, impressões minhas de uma experiência que vivi
se o futuro é somente o lampejo contextualizado da visão projetada e baseada na conclusão que tenho sobre tudo o que acho de insuficiente em mim 

Camillo, Camillo, Camillo... a possibilidade de ser só pode existir na confluência e sincronicidade de todas infinitas e incógnitas variáveis no agora

E tudo, tudo além do agora são, e somente são, especulações minhas durante a dança
em um salão cujo chão quadriculado possui 64 casas, 32 quadrados pretos e 32 brancos
especulações baseadas nas impressões do que eu já vivi (sinapses) e do que penso em viver (necessidades minhas)
Projeções de um enxadrista que conhece o tabuleiro, conhece as peças, mas desconhece completamente a visão de seu oponente, o destino de todas as coisas

Por isso, Camillo, só agora eu compreendo que 
eu estou vivendo tudo o que deveria estar vivendo, nada além disso e nada menos que isso, justamente porque aqui estou na espontaneidade do agora

Não existe "e se" no agora e é isso que faz dele verdadeiro





Gosto de ouvir em 4:44 quando viram a página, tornam o momento mais próximo a mim



domingo, 13 de maio de 2018

I


                                                                                  ...
 Mao Hamaguchi


Ora, mas que forma perfeita isso ganha sob os véus dos meus pensamentos, Phobs
dentro da minha fóvea misturado ao que eu acredito
veja: o momento de espera é a própria eternidade em nossas vidas
Mas eu, Phobs, eu não mensuro mais com Chronos e na minha versão Pandora jamais voltou fechar a caixa

Esquizóide, anedonia, estoicismo, o que importa quando a fala não nos desperta
estou cansada das palavras, Phobs
grande parte dos meus amigos estão mortos,
quando os conheci assim já estavam <dialogam comigo os seus feitos>

Phobs, eu vejo um bosque, vejo a noite, as frondosas árvores, folhas e vento, vejo o lago, sinto a névoa, ouço os seres notívagos, sinto a umidade nos meus pensamentos
o perfume do brilho que as esferas refletem para meus olhos de dentro para fora, agora
enquanto imagino esse local mais real do que tudo que há em mim e a minha volta
eu adormeci para o lado de fora, Phobs, e não há olhar que me desperte

... não vejo olhar algum que me desperte

Meus outros sentidos ressaltam e compreendo apenas tudo o que for não-verbal
Sensação de sono eterno interno que me conforta unicamente dentro da pluralidade dinâmica que sou
Deixem-me em paz, porque se o silêncio é escrupulosamente o destino
já que não está além de agora o que se diz por vir.