quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Só o que foi pode ser sentido, adeus, pertence o destino.

 

Eu não me ocupo me culpando

E nem lhe culpo ocultando 

o fato de que o fado, definitivamente, nunca deixa de ser 

por falha nossa, por não ter sido suficiente, por não ter ido em frente, não, Julio, nada disso faz sentido, pois, depois veremos muito claro: tudo isso não passa de conjecturas dos cantos de uma mente.

O que não foi jamais deixará de ser, isso porque só deixa de ser aquilo que um dia foi. E nós não somos. Nós nunca fomos, senão, ingênuos.

Deixa mesmo, deixa estar, que bom que se deixou, porquanto cada um no leito de destino se deitou.

Tudo passará, num silêncio intransponível, 

como tem passado

Assim, como tem passado a vida, dia por dia, em cada uma das conquistas que ontem tanto almejamos e que hoje, depois de tudo, não traduz nem menos da metade do que somos por inteiro dessa sede insaciável revelada na calada da noite, quando estamos a sós, sim, quando estamos sozinhos bem dentro de nós, velados por um (ainda que proscrito e inadmissível) descontentamento que bem baixinho... bem baixinho, sussurra e caminha pelos cantos dos recônditos indivisíveis de nossa alma.

Cantos do nossos poetas, semântica das nossas poesias.

A mim

me parece

em nada

lhe reconheço

,

Sua face, seu timbre, o contorno do seu corpo, sua altura, sua forma de falar, seu olhar, nada, nada reconheço. Um estranho para mim, salvo seu nome. 

Seu nome, seu nome que me é tão familiar, diluiu-se em quem eu sou, o único caminho que me leva até seu nome é a melodia da canção de Jobim, cujo título rima com hipnotiza.

Mas, lembrei que nem mesmo meu nome eu lhe dei. E, ainda assim, seu nome continua em mim.  

Antes de levarmos o óbolo ao barqueiro, 

pitonisa.

Das lembranças de Elisa.

Que também soou 

Eu


quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Ada, temos colocado tanto de nosso tempo



Ada,

Temos colocado tanto de nosso tempo ao querermos mostrar ao mundo o porquê de vivermos aquilo que temos escolhido acreditar que deixamos de vivê-la, por viver para justificar. Aos olhos dos outros, seja por registros, por imagens sem o brilho do que é verdadeiramente espontâneo, palavras, discussões e explicações, justificações que diante da magnitude vida, não são nada, não há o que provar, são em vão... como esta que lhe escrevo.

Como muros que cercam uma casa (que se esquivou de ser casa) para concentrar todas suas energias no muro, cansados ficamos e cansados estamos. Pois, temos escoado todo nosso ânimo na expectativa de montar um mural que justifique para nós (pelo critério ilusório de que quantos mais olhos verem e pessoas souberem quem somos e o temos feito, mais seremos), como que se fosse prova cabal de quem somos. 

Váquet, Ada...

Quanto mais olhos olharem, quanto mais ouvidos escutarem, menos é, uma vez que isso mais se dissolverá entre as realidades de cada um, seremos devorados e dispersados, dissolvidos num oceano sem fim de expectativas, projeções e frustrações alheias. 

Então, COMO não haveríamos de estar cansados e sem tempo para vivermos nossa vida? COMO haveríamos de ter autodomínio e ânimo.para cumprir nossos objetivos se tudo, (não há limites) todos e qualquer possuem deliberadamente o direito de desfrutar, saber, e até mesmo achar que possuem a liberdade de acompanhar, compartilhar conosco particularidades de nossa vida? O que mais é só nosso? E que por estar nos limites do nosso Sagrado Particular é nossa maior fonte de inspiração, ânimo e objetivo cotidiano   de vida? Ava... não há limite.

Ada,

São exatamente esses limites que delineiam quem somos e que nos permite ter ânimo e viver plenamente sentindo o significado em nossas vidas. 

🧚‍♂️✨

quarta-feira, 18 de setembro de 2024


Ambar, ARMINKA
Ambar, 


Referência imagem: https://www.howardlyon.com/illustration/prints/elfcleric


Arminka, nada disso define.
Pelos olhos alheios somente sou tudo o que nunca fui 
Se eu me volto para algo e não sou recebida na integridade do que sou
Isso só significa que nossas visões vislumbram diferentes direções 
Veja, Arminka, isso não diz sobre mim
isso não diz sobre o outro
Diz unicamente do desencontro


E eu não me dobro, Arminka
não quebro meu próprio pescoço para olhar onde olhos alheios olham
não me desdobro para caber nos outros
o desfeito, não aceito
Sei do que sou sabendo o que não quero
Observando, espero.

E no mais íntimo do meu ser
sinto que não me devem nada
Arminka, o que me completa é a vida
que eu escolho ser vivida

É minha consciência sobre a amplitude decisiva
do meu ato conciso de escolher em vida
que proporciona completude
O resto só ilude. 

Mas, bem sei que amiúde a ilusão invade
fazendo parecer verdade 
Resisto
jamais insisto
permito que o outro não mais exista
em mim
mutualidade não é coisa a ser revista

Meus anseios, Arminka, são sinais de direção 
para o que devo, definitivamente, dizer sim ou não 
corto com katana, encurralo com gana, sinapses que me levam ao mal estar do coração

Já disse que o conhecimento sempre encontra
um meio de chegar até nós, Arminka
o DESTINO não depende da boa vontade de terceiros e se for pra eu ir, irei
Se tiver de me ser revelado, assim será
Anos de experiência não são transferidos
são construídos com a independência da vontade
que cria caminhos à frente do que vemos como realidade
Querer cria caminhos 
e nos traz

Para nós

Eu estou comigo
Encontra-me 
tudo o que preciso
vem
sem que insisto, porque é

só o que me faz bem
eu quero
 o que desperta o melhor em mim
eu vejo
Na direção do meu coração
eu vou

silencio
ouço o chamado da minha própria voz
existe sim um nós
não aceito menos para que o caminho 
seja o próprio destino
entre você e eu 
naitë



sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Arte: TheArtfulAgora

Andúnë, em meu peito eu sinto
um adeus, Namárië
passos para trás
algo aperta meu coração e não me sinto bem,
não me sinto parte
devo partir.


Meus amigos mais íntimos continuam sendo
aqueles que não mais respiram, que tanto me inspiram, pois suas presenças são um lar em mim. 

O conhecimento sempre encontrará caminhos para chegar até nós, a real fonte jorra
em inúmeras e perpétuas maneiras
Eä permeia a todos que se adentram
e cada um à sua medida. 

Nos olhos dos fírimar encontro limites,
não consigo transpor
são sensações que me revelam verdades ocultas ao sentidos despertos 
sensações que me desapontam 
e por isso olho em direção à luz do eterno

Bússola cravada bem no meio do meu peito
o que eu sinto revela um caminho
o caminho ao qual eu pertenço 
Enquanto as ondas de esquecimento
apagam vãs expectativas em pensamentos

Eu me liberto
A verdade sempre aparece.

quarta-feira, 23 de junho de 2021


 

Parmênides, hoje eu me sentei com todos os meus medos num jantar tenro e farto de expectativas gourmetizadas e dialoguei
comigo mesma, sei o quanto cri
que batendo os pés e as mãos em meio ao oceano toda a agitação 
transformaria a água em terra firme

Entretanto, só encontrei a firmeza que buscava ao afundar
 alcançando a terra no inconcebível fundo do oceano
na profundidade mais escura de mim mesma

 Parmênides, se eu sou o riacho e a água seca ou transborda
é tudo somente porque também sou as margens
mas não havia ainda me percebido
perpetuando os esquemas, toda essa engenhosidade pontualmente perpetuada por mim

Engasgamento, quando Ouroboros saciou-se de si
porque eu sou a água e as margens floridas
e enquanto Rá me toca, transcendo com sua máxima do Templo em Delphos
assim, sou eu mesma também, a precipitação
eu sou o rio, as margens e a chuva 
e o outro: o outro começa somente no momento em que eu termino


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

 


Deixe que as coisas aconteçam da forma como tem de acontecer, Arminka 

Libertar ainda é uma maneira de permanecermos em nós mesmos, 

não somos o centro de tudo 

Mesmo quando fomos firmes contra a maré estávamos cercados pelas encostas dos nossos sonhos. 

Arminka, por que insistimos em procurar por aquilo que sabemos que irá machucar nossos olhos ardendo nossa alma?

 Você sabe quem tem nos rondado? 

Sim, sabemos já 

não é senão a raiz oculta cujos olhos espreitam sob a escuridão das nossas próprias sombras 

sobe rastejando em forma espiral contornando-nos dos pés à cabeça, cercando nossos pensamentos 

Quem melhor conheceria os limites da nossa própria consciência acerca de nós mesmos? 

Incessantes vozes falantes geradas pelos rastros enfurecidamente dopaminérgicos deixados no sistema límbico em nós



segunda-feira, 3 de agosto de 2020






Aos poucos, Arminka, aos poucos

Numa primeira vez, eu me impeço
guardo para mim, apesar do profundo amargor que causa
a ponto de não conseguir deixar de transparecer o desgosto
no peso da seriedade que me abate

É a partir disso que pondero um valor entre mim e a situação 
A gênese do fundamento que me guiará numa próxima vez, 
que está por vir, Arminka, está por vir

Numa segunda vez, eu me expresso
as palavras extraídas do fundamento transcrito numa bandeira que junto de uma estaca
finquei em meu peito
Não, Arminka, eu não estaria derrubando algo
Como perder o que já está perdido?

Se uma situação vem a partir de uma escolha alheia, já não depende mais de mim
definitivamente já é o que queria ser, o que penso não impedirá que continue sendo
E se isso se choca com o que há dentro de mim é para que eu perceba claramente
que as coisas não são bem como eu pensava que fossem

E não posso ficar nas mãos de uma vontade que não me pertence
por isso, numa terceira vez, eu me despeço