quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Arcano Menor: Rainha de Espadas





Camillo, estou ciente de que nesse mesmo instante estão ocorrendo tantas coisas, mas apesar de reconhecer isso, meus sentidos não são suficientes para captar em completude a vastidão da singularidade <em visão micro e macro> do que tem ocorrido para além da minha cabeça

Só que eu percebi, Camillo, eu percebi...
agora esse é um ponto muito claro dentro do conjunto de pensamentos que me sacode os nervos do despertar ao adormecer, sim está nítido
eu percebi que o que mais nos atormenta é a possibilidade de estar perdendo possibilidades
associada à vaga e iludida impressão de que temos domínio quanto a isso

Entendo, Camillo, e até concordo em partes, mas não, nem em relação aos nossos pensamentos poderemos utilizar a acepção desta palavra, pois não dominamos
Não temos o controle sobre todas as variáveis, nem mesmo conhecemos todas as variáveis
Estamos, em verdade, dançando com cada um desses pensamentos, eles nos oferecem a mão e nós permitimos a dança, rodamos, rodamos e rodamos nesse salão que é nossa mente
E nesse momento estabeleceremos sinapses, as quais serão chamadas de "passado" pela intensidade com que ocorrem e permanecem,
enquanto nós continuarmos aceitando seus convites para mais uma dança,
pois quando não mais, elas esvanecem feito como quando sopramos sementes de dente-de-leão.
Por vezes, abandonando para sempre o salão.

Então, posso recusar estoicamente a mão estendida desse pensamento que me faz pensar, de acordo com a medida dele, que não estou vivendo de maneira suficiente
que eu deixei passar, que eu estou deixando passar e que eu não passarei
Dançar com esse pensamento só me faz girar em torno de mim mesma, 
e por quanto tempo poderei suportar esse giro sem sentir meu estômago enjoar? 
por quanto tempo poderei suportar esse giro sem perder o equilíbrio no salão?
E a consequência dessa vertigem me induz a ver e a pensar que as coisas a minha volta estão fora do lugar, mas elas não estão senão em mim, tonta de tanto girar com ele

Se o passado é uma rede de sinapses que eu sustento, impressões minhas de uma experiência que vivi
se o futuro é somente o lampejo contextualizado da visão projetada e baseada na conclusão que tenho sobre tudo o que acho de insuficiente em mim 

Camillo, Camillo, Camillo... a possibilidade de ser só pode existir na confluência e sincronicidade de todas infinitas e incógnitas variáveis no agora

E tudo, tudo além do agora são, e somente são, especulações minhas durante a dança
em um salão cujo chão quadriculado possui 64 casas, 32 quadrados pretos e 32 brancos
especulações baseadas nas impressões do que eu já vivi (sinapses) e do que penso em viver (necessidades minhas)
Projeções de um enxadrista que conhece o tabuleiro, conhece as peças, mas desconhece completamente a visão de seu oponente, o destino de todas as coisas

Por isso, Camillo, só agora eu compreendo que 
eu estou vivendo tudo o que deveria estar vivendo, nada além disso e nada menos que isso, justamente porque aqui estou na espontaneidade do agora

Não existe "e se" no agora e é isso que faz dele verdadeiro





Gosto de ouvir em 4:44 quando viram a página, tornam o momento mais próximo a mim



domingo, 13 de maio de 2018

I


                                                                                  ...
 Mao Hamaguchi


Ora, mas que forma perfeita isso ganha sob os véus dos meus pensamentos, Phobs
dentro da minha fóvea misturado ao que eu acredito
veja: o momento de espera é a própria eternidade em nossas vidas
Mas eu, Phobs, eu não mensuro mais com Chronos e na minha versão Pandora jamais voltou fechar a caixa

Esquizóide, anedonia, estoicismo, o que importa quando a fala não nos desperta
estou cansada das palavras, Phobs
grande parte dos meus amigos estão mortos,
quando os conheci assim já estavam <dialogam comigo os seus feitos>

Phobs, eu vejo um bosque, vejo a noite, as frondosas árvores, folhas e vento, vejo o lago, sinto a névoa, ouço os seres notívagos, sinto a umidade nos meus pensamentos
o perfume do brilho que as esferas refletem para meus olhos de dentro para fora, agora
enquanto imagino esse local mais real do que tudo que há em mim e a minha volta
eu adormeci para o lado de fora, Phobs, e não há olhar que me desperte

... não vejo olhar algum que me desperte

Meus outros sentidos ressaltam e compreendo apenas tudo o que for não-verbal
Sensação de sono eterno interno que me conforta unicamente dentro da pluralidade dinâmica que sou
Deixem-me em paz, porque se o silêncio é escrupulosamente o destino
já que não está além de agora o que se diz por vir.


domingo, 11 de fevereiro de 2018

I



Bertrand, eu hoje passeei por rostos e vi o que eles viram a partir de como eles veem 
todas as coisas do mundo, toda a procura por um motivo que as enraízem em um propósito 
tão profundo quanto suas próprias vidas.

Mas eu, Bertrand, que vou, mas dou meia volta e retorno pela via que me levará para onde jamais fui, estive pensando 
em como me falta a falta que faz daquilo que falta intimamente de maneira eterna...

Como ondas, palavras chegam até mim e se quebram como quando golpeiam rochas impermeáveis e se espalham ao redor, nada permanece ou me envolve, se é o olhar da Medusa que tem estancado o sangue do meu coração. 

Eu, Bertrand, passei pela vida com a tentativa de ser plenamente toda expressão na amplitude do que eu poderia ter sido,
entretanto tive a experiência da percepção de que  absolutamente nada é certo que seja.

Então, isso me fez estar certa de que eu não mais teria certeza do que pensei que seria, mesmo quando tudo parecia ser.

E já que com a mesma espontaneidade as coisas acontecem também deixam de ser, eu, Bertrand, eu devo partir, devo agir, devo rasgar novamente uma realidade que eu mesma cosi.


Toda a lição que hoje aprendi, todas as coisas que concluí, já não me resta mais irmandade para com as coisas que esse mundo almeja. Se me dizem, mas o que eu escuto não passa de uma percepção distorcida em minhas necessidades, então não há mais razão que me segure aqui.

Preciso novamente do novo, do desconhecido, do que não me alcança.
O que eu desejo não tem nome, não tem forma, nem perfume, nem som, nem cor. Organolépticamente omitido. Tenho sido um descuido de todos os engenhosos sonhos e propósitos da Natureza. 
Sou, estou e me sinto ilhada aqui.