domingo, 11 de fevereiro de 2018

I



Bertrand, eu hoje passeei por rostos e vi o que eles viram a partir de como eles veem 
todas as coisas do mundo, toda a procura por um motivo que as enraízem em um propósito 
tão profundo quanto suas próprias vidas.

Mas eu, Bertrand, que vou, mas dou meia volta e retorno pela via que me levará para onde jamais fui, estive pensando 
em como me falta a falta que faz daquilo que falta intimamente de maneira eterna...

Como ondas, palavras chegam até mim e se quebram como quando golpeiam rochas impermeáveis e se espalham ao redor, nada permanece ou me envolve, se é o olhar da Medusa que tem estancado o sangue do meu coração. 

Eu, Bertrand, passei pela vida com a tentativa de ser plenamente toda expressão na amplitude do que eu poderia ter sido,
entretanto tive a experiência da percepção de que  absolutamente nada é certo que seja.

Então, isso me fez estar certa de que eu não mais teria certeza do que pensei que seria, mesmo quando tudo parecia ser.

E já que com a mesma espontaneidade as coisas acontecem também deixam de ser, eu, Bertrand, eu devo partir, devo agir, devo rasgar novamente uma realidade que eu mesma cosi.


Toda a lição que hoje aprendi, todas as coisas que concluí, já não me resta mais irmandade para com as coisas que esse mundo almeja. Se me dizem, mas o que eu escuto não passa de uma percepção distorcida em minhas necessidades, então não há mais razão que me segure aqui.

Preciso novamente do novo, do desconhecido, do que não me alcança.
O que eu desejo não tem nome, não tem forma, nem perfume, nem som, nem cor. Organolépticamente omitido. Tenho sido um descuido de todos os engenhosos sonhos e propósitos da Natureza. 
Sou, estou e me sinto ilhada aqui.